Sempre fui um um baú de segredos. As pessoas confiam em mim e contam as mais longas, complicadas histórias sem sentido, eu as ouço, eu as consolo, eu as entendo. Eu gosto disso, seria feliz na profissão de psico-terapeuta. Na verdade, admiro muito as pessoas que tem essa capacidade de se abrir totalmente, revelar os desejos mais improváveis, confessar os sonhos mais desvairados, justamente porque eu pouco me revelo.
Não sei se por que sinto que ao falar sobre mim, não estou falando, mas criando, criando esse personagem, que ás vezes não reconheço, mas que na fala, cria vida. Eu até me simpatizo com esta criação, estabeleço certa empatia, mas parece que no fundo sei que não é eu. Tenho consciência que não existe "eu verdadeiro", que somos constantes construções, e construções linguísticas, por isso resolvi escrever, para ver se me pego de surpresa. Talvez no meio da narrativa em fluxo me traio e me acho. Logo, estou me escrevendo, me construindo e me espiando. Sim, assumi a contradição, mesmo sabendo que todos nossos "eus" são construídos vou escrever até localizar uma parte deles, mesmo que mutáveis, quero os perceber.
Há muito tempo não escrevia para mim, escrevi muito quando criança e adolescente. É uma sensação única, escrever para si, por isso o anonimato não faz diferença. Comecei a escrever pensando em falar de relacionamentos, do sexo oposto. Mas tem tanto assunto entalado na minha garganta que não sei dar ordem a esse caos.
Sinto, como se tivesse hibernado durante uns 3 anos emocionalmente, o fim da graduação me consumiu intensamente, de maneira que teci poucas relações afetivas com o sexo oposto. Agora sinto que acordei e estou preparada para algo, mas as regras do jogo mudaram e eu não acompanhei. Parece que os homens estão mais complicados, ou sou eu que penso demais. Comecei a pensar que se todas as pessoas são tão complicadas internamente como eu, é melhor ir com calma, acima de tudo dar espaço ao outro, não forçar nada. Quando penso que estou conseguindo voltar estabelecer contato potencialmente romântico, o outro já é comprometido. Isso está me deixando muito desconfiada, e não quero perder minha espontaneidade. Tenho muita dificuldade com o mundo dos signos e códigos de relacionamentos, principalmente nas redes sociais, alguns dizem "cutucar no Facebook tem conotação sexual", outros dizem que só de bater papo online, já está paquerando. e ainda tem aquela história de tempo de espera para responder uma mensagem, se você responde rápido demonstra que está carente, se demora para responder ou esquece é um aviso que o outro está incomodando... o que me deixa mais incomodada é como algumas pessoas levam estes códigos a sério, não param para pensar nem por um instante que o outro não conhece estes códigos.
Não deveríamos levar estas coisas tão seriamente, quero viver como eu quero, responder a hora que eu quero, me interessar genuinamente, perder o interesse e ser respeitada por isso, quero acreditar que duas pessoas conversando podem ser só duas pessoas conversando, que a amizade é possível, e que não preciso me submeter aos seus julgamentos baseados nos seus códigos imaginados.
Ufa, me sinto mais leve já!
Vou fazer um manifesto pelo respeito à espontaneidade, ao interesse genuíno, às imprevisibilidades da vida, ao acaso. E para o ponta pé desse movimento pessoal, não vou editar esse texto, revisar ou corrigir! Termino pensando que o amor deveria ser fácil, inevitável, incontrolável. High 5 Caos!